top of page

TUMULTO QUARITERÊ

Pela região do Mato Grosso, o Quilombo do Quariterê estabelecia um governo autônomo e negociava com o Estado português a nível de comércio, ali no final do séc XVIII.

Audiodescrição TUMULTOS Quariterê
Cópia de A0703662.png

Loc: Espaço Cultural NZAMBI Capoeira Angola, Paranoá

As gentes se derramavam

No rio Galera

Quando um apelido bravio

Guariteré

Fez-se rei daquela terra

Até ter seu sumiço

E ali vindo orquestrar feito

A Benguela

 

Nem sei de Piolho

Que manso não era

Capoeira em generoso pantanal

Mil cachoeiras

Disputadas entre cabixis

Caburés

Antes mesmo sim

Da expedição

 

No tempo era ela

Em guerra abundante

A colônia distante

Ofuscada... Mato e água

 

Ouro indígena

Quilombolas em conflito

 

Até que as tais bandeiras chegam

Calibres bagunçando tribos

Pela independência

Sem saber seus nomes

 

Ela sabia

 

O preço do chão

 

Do reino

 

A burocrática esperança

Ruim ao bandeirante

Que armou seu fogo

Recortando a paisagem fria

Com sua roupa tola

De soldado

Em uma resposta evidente:

Achar...

 

E toda a noite era demora

E cada boca de rio coaxava

 

A morte não era o medo

O medo era acabar

Em mar doce

Ou na saliência do rio mar

"[...] por maior oráculo o tal piolho, por ter sido, em outro tempo, rei em um quilombo que se dissolveu nos matos da cidade do Rio de Janeiro. Este fiado nas mandingas com que o diabo o trouxe enganado, foi um dos que resistiu, isso depois de algumas ciladas que fez aos soldados. Por isso, acabou a vida diabolicamente: a violência de um tiro que lhe empregaram no corpo" (AMADO & ANZAI, 2006, p. 140).

 

“em “A Hidra e o pântanos”, o historiador Flávio dos Santos Gomes afirma que as teias formadas por quilombolas com membros externos ao quilombo, propiciavam intercâmbios entre fugitivos, grupos indígenas, vendeiros, negociantes, pequenos proprietários, geralmente de maneira clandestina, e acabavam por se caracterizar como imensos pântanos nos quais as autoridades lusitanas se “atolavam”, pelo fato de estarem inviabilizadas ao abatimento por completo destes espaços." Ver GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil (séculos XVII- XIX). São Paulo: Ed. UNESP; Ed. Polis, 2005, p. 35.

 

“(...) situado em hum belíssimo terreno muito superior, tanto na qualidade das terras, como nas altas e frondosas mattarias, as excelentes e, actualmente cultivadas margens dos rios Galéra, Sararé e Guaporé: abundante de caça, e o rio de muito peixe, cujo rio é da mesma grandeza do Rio Branco. A bandeira achou no Quilombo grandes plantações de milho, feijão, favas, mandiocas, manduin, batatas, caraz, e outras raízes, assim como muitas bananas, ananazes, aboboras, fumo, gallinhas e algodão de que faziam panos grossos e fortíssimos com os que se cobriam” (AMADO & ANZAI, 2006)

 

"O Quilombo liderado por Teresa de Benguela, atacado em 1770 e 1795, para ter existido por dezenas de décadas, longe de estar isolado, só ganhou viabilidade pelas complexas alianças e relações formadas tanto com aqueles que permaneciam no bojo da sociedade escravista - assenzalados ou contrabandistas – como com os próprios povos indígenas do extremo oeste das consideradas possessões portuguesas. Especialmente com estes últimos, como vimos acima, viabilizou sua existência material na possível utilização de técnicas agrícolas trazidas por mulheres indígenas Pareci-Cabixis que haviam sido raptadas - fato que surpreendia até mesmo habitantes dos povoamentos lusitanos que no mesmo período enfrentavam carestia. Em todo caso, a reflexão sobre as trocas culturais de quilombolas e indígenas, no seio do Quilombo Grande, ainda está por merecer análises mais aprofundadas. Contudo, a despeito das atuais limitações, estamos diante da história de homens e mulheres que se valeram de todos os meios possíveis para manutenção da liberdade e, para tanto, pegaram em armas, se assimilaram ou deixaram-se ser assimilados a culturas diversas." (RODRIGUES, 2016)

Fonte:

 

AMADO, Janaína; ANZAI, Leny Caselli (ORGS.). Anais de Vila Bela, 1734-1789. Col. Documentos Preciosos. Cuiabá: EdUFMT, 2006.

 

‌GOMES, Flávio dos Santos. A hidra e os pântanos : mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil (séculos XVII-XIX). São Paulo: Unesp, 2005.

‌JUNIOR, Emmanuel de Almeida Farias. Negros do Guaporé: o sistema escravista e as territorialidades específicas. 2011, RURIS - Revista do Centro de Estudos Rurais, v. 5, n. 2, 2011.

RODRIGUES, Bruno Pinheiro. 'Aruaquização': para outra possível leitura do Quilombo Grande (1730-1795). Territórios e Fronteiras (Online) , v. 9, p. 285-302, 2016.

FAC DF.png
bottom of page